O impacto social
A transformações que aconteceram naquele espaço ecoam na realidade social que se apresenta hoje. Grupos de agricultores e pescadores interromperam sua atividades, famílias nativas abandonaram a região, índices de imigração tomaram proporções altíssimas e a urbanização desencadeou altos índices violência e prostituição, prejudicando a atividade turística.
​
.jpg)
Distrito do Pecém, São Gonçalo do Amarante.
27/10/18
A proposta apresentada pelo governo afirmava que a obra beneficiaria 30 mil famílias e teria capacidade de gerar de dois a três mil empregos no período de construção. Seria assegurada a qualidade de vida da população, o compromisso com a sustentabilidade, parceria e visão ao longo prazo. No entanto, a empregabilidade local surge na perspectiva do subemprego, empregos de baixa qualificação que despontam somente em tempos de construção de obras.
Érica Pontes, doutora em geografia e assessora parlamentar do deputado Renato Roseno, explica como se dá esse processo: “A oportunidade de emprego acontece no período de instalação das indústrias, que são grandes equipamentos. Então, se gera muito emprego na instalação, na construção - principalmente na construção civil - e, mesmo os [moradores locais] que ficam empregados no processo de manutenção do empreendimento, não são nos melhores trabalhos".
​
Thiago Anacé, sociólogo e liderança da reserva indígena Taba dos Anacés, no Pecém, relembra que houve, de fato, um momento de grande crescimento econômico e oferta de emprego na região, mas avalia que não houve um processo de conscientização sobre ser uma oferta passageira. Soraya Vanini explica o motivo do emprego efêmero: “Após a implantação do porto, da siderúrgica e da termelétrica houve uma demanda por mão de obra qualificada e um impacto tremendo. Alertamos desde o começo que isso iria acontecer. Se trata da ilusão do discurso do desenvolvimento, que vai trazer empregos, e eles [moradores locais] acreditavam que seriam os empregados do Complexo Industrial Portuário, mas não foram!”.
O Pecém de hoje cresce assustadoramente, seu comércio aumenta, acompanhando o desenvolvimento industrial. O distrito, a cada instante, perde sua identidade, e das famílias, antes existentes, pouco se fala e pouco se vê, pois a imigração para o Pecém é muito grande e foge aos padrões antigos.
​
Trecho retirado do site MUNDOSGA, página oficial da prefeitura de São Gonçalo do Amarante.
Em levantamento feito pelo Fórum do Litoral observou-se que a população local não possuía grau de escolaridade, nem qualificação profissional, para se inserir no mercado de imediato à finalização do porto, que exigia alta competência para ocupação dos postos de trabalho. Rosa Martins conta: “O fato é que a estrutura do porto ia ser extremamente tecnológica e aqui no Ceará não tinha ninguém com condições de operar [as máquinas] o porto. A maioria dos funcionários, engenheiros, vieram de fora para trabalhar ”.
O resultado foi devastador. No ano de 1997, estimava-se que mais de mil pescadores do Pecém teriam suas atividades encerradas e estariam desempregados, número que cresceria em virtude da falta de qualificação desses trabalhadores que não podiam ocupar cargos no porto, nem nas outras indústrias instaladas. Érica Pontes conclui: “Então, nem a promessa prioritária que eles [Governo] usam para respaldar o empreendimento se concretiza. Quando são empregados [os moradores locais] ainda assumem os cargos mais subalternos, os mais qualificados não são de lá”.