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O discurso do desenvolvimento  

Hoje, o cenário  não é muito diferente. A ideia de que o CIPP está atrelado ao crescimento econômico invisibiliza os dramas do povo local, ou rotula negativamente quem esteja na luta junto a eles como sendo ‘contra o desenvolvimento’. As injustiças acometidas aos cidadãos se justificam na ideia de que o Porto do Pecém representa um grande avanço para o Estado e suas relações com o mercado internacional, gerando emprego e renda, e contribuindo com a economia do país.

...não tenho dúvida que vai beneficiar o povo cearense, criando oportunidades de emprego, de renda...

 

Camilo Santana, governador do Estado, sobre a nova parceria do CIPP com o Porto de Roterdã, selada em outubro deste ano.

Soraya Vanini fala sobre os efeitos que são continuamente ignorados para sustentar a ideia de um empreendimento que só acarreta benefícios: “É apresentado uma série de números, mas não aparece qual é o custo para as populações, quantas pessoas foram deslocadas, quantos recursos naturais se exauriram. Essa parte do impacto não aparece. Vão aparecer 12 mil empregos, nesses números estão contabilizados até empregos indiretos que foram gerados...”.

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Frequentemente, notícias sobre novos investimentos, parcerias e ampliações são divulgadas. Em contrapartida, não se noticia com a mesma frequência, nem relevância, o dia a dia dos residentes de áreas afetadas pelo CIPP e sua luta constante. Em suma, os espaços de análise sobre a situação desse povo em decorrência do Complexo estão em trabalhos científicos desenvolvidos, principalmente, por acadêmicos da geografia, e em organizações não governamentais que lutam pela causa.

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Isso gera uma reflexão, já que desde a instalação do porto no final dos anos 1990's, os problemas não cessam. Ainda hoje existem problemas de desapropriação, impactos ambientais, índices de violência e impactos sociais decorrentes da alteração do modelo de vida e organização das comunidades. O geógrafo Francisco Amisterdam está desenvolvendo sua pesquisa de mestrado sobre impactos do CIPP com as primeiras desapropriações, e salienta: “Muitos documentos e muita coisa eu tenho são recentes, e quando a gente opta por fazer esse recorte temporal [de 1996 a 2004], de cara consegue perceber que parte das violações que aconteceram lá se repetem. Os processos são muito parecidos”.

 

Érica Pontes reforça: “Os impactos sempre são minorados quando se coloca em prioritário a tal geração de emprego, a tal geração de renda, a política de exportação, o PIB e todos esses números que eles gostam de colocar. A gente reforça sempre que se colocasse na conta todos os impactos ambientais, todas as pessoas removidas, a saúde dessas pessoas, não compensaria”.

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