Consequências do CIPP
Em um trabalho de mapeamento da região de áreas afetadas pelo CIPP, realizado em 2014, a Associação Barraca da Amizade, por meio do projeto ‘Não à violência sexual no município’, apontou índices de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. A Associação passou a estudar o município de São Gonçalo a partir demanda da sociedade que se mostrava preocupada com a violência sexual direcionada aos jovens em decorrência do Complexo Portuário.
Foi constatado que o poder público local reconhece a existência de casos de violência sexual, porém, não estava na agenda de prioridades ações específicas voltadas para o enfrentamento desse problema. Rosa Martins relembra o início desse processo com a instalação do porto: “Aí a gente começa saber dos impactos, houve muita exploração sexual, tinha lugar de prostituição. As meninas, sobretudo crianças, eram envolvidas no processo de sedução para o atendimento dos trabalhadores que estavam na região”.
Ainda no mapeamento feito pela Associação Barraca da Amizade, foi identificada a falta de implantação de projetos sociais para minimizar ou prevenir os impactos causados à medida em que se iniciavam as obras, ação imprescindível, já que, como aponta o grupo: “A questão da violência sexual, particularmente a exploração sexual de crianças e adolescentes, se configura, portanto, como um dos impactos imediatos associados a grande empreendimentos…".
Soraya Vanini fala, sobretudo, do impacto na vida das mulheres: “A gravidez precoce também é um problema relevante. Devido aos estrangeiros, você tem os homens que vêm de fora, que possuem uma outra condição social, e aqui você tem meninas pobres. Assim, se estabelece uma relação de poder, muitas vezes mediada pelo sexo”.
O porto acaba trazendo junto consigo outras possibilidades e, nesse conjunto de possibilidades, ele traz uma perspectiva muito grande de mudanças de comportamento nas formas de se relacionar com o território, com o meio ambiente, uma nova forma de se relacionar com as outras pessoas...
Thiago Anacé, liderança da reserva indígena
Taba dos Anacés.
No ano de 2012, em uma tentativa de minimizar os problemas provocados pelo CIPP nos municípios, foi idealizado o ‘Pacto pelo Pecém’. O objetivo era aprofundar estudos e discussões sobre o Complexo Portuário avaliando seus impactos sobre a sociedade e a economia do Ceará. A ideia era reunir a sociedade junto ao Governo para, com o Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembléia Legislativa do Ceará, desenvolver trabalhos de análise sobre os efeitos positivos que poderiam ser potencializados e os impactos indesejáveis a serem suprimidos.
A iniciativa gerou três publicações: ‘Iniciando o diálogo’ (2011), como base para discussão, que resultou no documento ‘Cenário Atual do Complexo Industrial e Portuário do Pecém’ (2013) e na proposta de uma ‘Agenda Estratégica para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém’ (2014).